sexta-feira, 11 de maio de 2018

Francesíssima, ela foi uma das escritoras que mais celebrou o ato de comer. A ponto de considerar a arte culinária algo sagrado, mágico. Descreveu: “A verdadeira cozinha é feita por quem experimenta, saboreia, sonha um instante, coloca um fio de azeite, uma pitada de sal, uma folha de tomilho; por quem pesa sem balança, mede o tempo sem relógio, observa o assado somente com os olhos da alma e mistura os ovos, a manteiga e a farinha segundo a inspiração, como uma bruxa do bem”.
Sidonie-Gabrielle Colette nasceu na região da Borgonha, em 1873, e ali viveu até o seu primeiro casamento, sob os cuidados e o carinho da mãe, que marcou sua vida afetiva e gastronomicamente. A menina a observava fazendo conservas, queijos encorpados _como o brie_, manteiga etc. Comida simples, porque a verdadeira gastronomia é a que sabe tirar o melhor de um produto modesto. Foram esses sabores fortes e o autêntico gosto camponês que formaram a pequena gourmet.
Um de seus pratos favoritos era Cassoulet (receita abaixo). No decorrer dos anos, o apetite voraz a levou aos 80 quilos. Sua obra é um hino ao estômago. Os seus livros são recheados de aromas e sabores. Em resumo, a vida literária é feita de comida, mas também a vida real. Nos anos de guerra, se a França tem fome, Colette tem muito mais. Obcecada por comer, sobrevive ao racionamento com o que lhe enviam da Normandia duas amigas que cultivam a terra e criam animais. Em 1º de agosto de 1954, quando já não digere alimentos sólidos, tem como sua última refeição uma xícara de sopa de legumes. Ela está radiante, conversa em voz alta com alguma entidade invisível e morre em paz.

Cassoulet
Ingredientes para 4 pessoas
500g de feijão branco seco
200g de pele de porco
1 maço de ervas aromáticas (tomilho, louro, salsinha)
1 cebola grande 
4 cravos-da-índia
Sal e pimenta 
Manteiga
500g de linguiça
700g de paleta de porco
4 dentes de alho
200g de toucinho
Caldo de carne
2 peças de confit de ganso (facultativo)

Modo de preparo
Escorra a água em que o feijão ficou de molho por 12 horas. Toste a pele de porco, coloque os dois ingredientes em uma panela grande, adicione 3 litros de água, o maço de ervas aromáticas e a cebola descascada e cortada em rodelas, espetadas com os cravos-da-índia. Cozinhe por cerca de 1 hora. Coloque sal e pimenta a gosto.
Derreta 30 gramas de manteiga em uma panela, junte a linguiça cortada em pedaços de mais ou menos 10 centímetros e deixe dourar por 10 minutos. Tire da panela, elimine praticamente toda a gordura advinda do cozimento e coloque mais 20 gramas de manteiga, na qual vai dourar a paleta de porco cortada em pedaços. Coloque os dentes de alho triturados e o toucinho cortado em cubinhos, dourando-os por 10 minutos.
Cubra com o caldo de carne quente, ponha para cozinhar e deixe reduzir até a metade. Coloque os ingredientes na panela do feijão e prossiga com o cozimento por mais meia hora. Unte uma forma, coloque no fundo a carne e o feijão escorrido, tire o maço de ervas e ponha os pedaços de linguiça por cima e, se for usar, os pedaços de confit de ganso. Leve ao forno a 220ºC por uma hora, regando aos poucos com 3 colheres (sopa) cheias do caldo da carne filtrado; se o caldo da carne estiver secando rapidamente, cubra o recipiente nos últimos 20 minutos.
(Fonte: A Cozinha das Escritoras, de Stefania Aphel Barzini, Ed. Saraiva)

Foto: André Martin

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