segunda-feira, 7 de maio de 2018

A célebre escritora preferia morar em hotéis e comer em restaurantes. Cozinhava raramente. Frequentar cafés, bistrôs e caves fazia com que se sentisse livre, independente, rebelde. Mas a Segunda Guerra Mundial tornou impossível almoçar e jantar fora. Simone, então, se muda para um quarto com cozinha no Hôtel Mistral, e pega panelas e frigideiras emprestadas da irmã mais nova, Poupette. Começa a gostar da tarefa de comprar os ingredientes e ir para o fogão com o pouco que tem disponível. “Que horror quando eu errava o ponto ao cozinhar uma beterraba ou uma couve!”, lembrou em sua autobiografia.
Em 1943, transfere-se para o Hôtel La Louisiane, onde havia também uma pequena cozinha. É o momento das festas. Ela e os amigos compartilham seus ganhos para poder comprar o que, naqueles tempos sombrios e de fome, parecia uma quantidade enorme de comida e festejavam juntos toda noite. Porém, cansada dos hotéis, decide morar em apartamento. No pós-guerra, volta a comer em restaurantes. O Café de Flore se tornará o espaço que o casal Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre usa como um tipo de escritório, com a mesa repleta de papéis, bule, xícaras, açucareiro e cinzeiros.
De fato, ela não gostava de mexer com panelas. Mesmo assim, escreveu no livro O Segundo Sexo: “Se bem que cozinhar seja opressor, pode também ser uma forma de revelação e criatividade, e a mulher pode experimentar um tipo especial de satisfação ao preparar um bom bolo ou massa folhada”. Mas isso não funcionava para seu espírito revolucionário, embora a avó, a mãe, a irmã e a tia fossem exímias cozinheiras. Do alto de sua intelectualidade, temia se tornar uma pequeno-burguesa.
Simone adorava comer. Era louca por Blanquette de Veau à l’ancienne (receita abaixo), um dos pratos típicos da culinária francesa, e também por suflês e Clafoutis de Cereja. Poupette preparava de maneira sublime estas iguarias preferidas da irmã sempre que recebia sua visita. Entre as viagens que a escritora e o marido fizeram aos mais diversos países consta o Brasil. Na Bahia, o casal foi apresentado por Jorge Amado ao refresco de caju e à feijoada. E também a uma churrascaria, onde comeram carne suculenta como em nenhum outro lugar do mundo.

Blanquette de Veau à l’ancienne
Ingredientes para 6 pessoas
1,2 kg de vitela cortada em cubos
1 ossobuco pequeno
1 maço de ervas aromáticas (tomilho, alecrim, salsinha fresca, folha de louro, pimenta em grão) amarrado com barbante de cozinha
2 cenouras
1 cebola
2 colheres (sopa) de manteiga
2 colheres (sopa) de sal de farinha
Suco de 1 limão
500ml de creme de leite
1 gema
Sal grosso e pimenta

Modo de preparo
Em uma panela, coloque a carne, o sal grosso, o ossobuco, o maço de ervas, as cenouras cortadas em fatias e a cebola. Recubra tudo com água fria e ferva por 1h30. Então, misture a manteiga e a farinha em uma panelinha por 5 minutos em fogo baixo; tire do fogo e deixe descansar. 
Agora, recupere o caldo quente e filtre-o, tirando a cebola e o maço de ervas e colocando em um prato a carne e a cenoura. 
Sem recolocar no fogo, incorpore parte do caldo de carne ao composto de manteiga e farinha, batendo vigorosamente para evitar que se formem caroços. Recoloque a panelinha no fogo e cozinhe por 5 minutos, sempre misturando e colocando um pouco de caldo, até que se obtenha um creme não muito denso. Nesse ponto, coloque o suco de limão e cozinhe por mais um minuto. Nesse meio-tempo, bata o creme de leite com a gema, o sal e a pimenta. Junte esse composto ao creme e misture-os. 
Coloque a carne e as cenouras no molho e misture bem. Sirva imediatamente. Este prato fica ótimo acompanhado de arroz basmati.
(Fonte: A Cozinha das Escritoras, de Stefania Aphel Barzini, Ed. Saraiva)

Foto: Georges Brassai

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