Se “a amizade é o sal da vida”, a do famoso escritor baiano era bem salgada, no melhor sentido. “Nos domingos pela manhã”, afirma a escritora Myriam Fraga, “os Amados recebiam os amigos para um vinho, uma batida, uma cerveja e uns tira-gostos (entenda-se a expressão em sentido bem amplo, pois iam de acarajés a pernis de porco). Esses encontros muitas vezes transformavam-se em almoços. Frequentadores nacionais e estrangeiros movimentavam a conversa, trocavam opiniões sobre o dia a dia, a política e as artes”. Entre eles estavam: Dorival Caymmi, Carybé, João Ubaldo Ribeiro, Floriano Teixeira, Vinicius de Moraes, Maria Creuza, Genaro e Nair de Carvalho, Dias Gomes, Sônia Braga, Chico Anysio, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Harry Belafonte, Roman Polanski e muitos, muitos outros.
No prefácio de um dos livros mais célebres, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Jorge Amado escreve: “Sendo o autor, em matéria de culinária, apenas comilão, deve ele agradecer às suas boas amigas dona Carmen Dias, dona Dorothy Alves e dona Alda Ferraz, três mestras da grande arte, que forneceram receitas para a Escola de dona Flor, algumas das quais reproduzidas no romance com os ingredientes precisos e as medidas justas, podendo assim servir a quem deseje utilizá-las para os petiscos suculentos _sem no entanto garantir o autor pelos resultados pois, para a arte culinária, não bastam os materiais e suas quantidades; sem o gênio dos temperos, sem a vocação dos molhos, sem a intuição do ponto exato, ninguém chega ao paladar de dona Flor”. Uma dessas receitas é o Vatapá “para servir a dez pessoas (e para sobrar como é devido)”.
Além dos saborosos quitutes e merendas de dona Flor, também a personagem título de Gabriela, Cravo e Canela é exímia no fogão e encanta seu Nacib e seus clientes do Bar Vesúvio. As tradicionais iguarias baianas presentes na obra do escritor foram reunidas no livro A Comida Baiana de Jorge Amado, assinado por sua filha, Paloma Jorge Amado. A publicação, lançada há mais de 20 anos e reeditada recentemente pela chef Rita Lobo, traz receitas históricas e outras mais práticas. Entre elas, a Cocada Branca (receita abaixo).
Cocada Branca
Rende 20 unidades
Tempo de preparo: 50min para a calda + 15min na panela + 2h na geladeira
Ingredientes
1 ¾ de xícara (chá) de açúcar
2 xícaras (chá) de água
3 xícaras (chá) de coco fresco ralado
Açúcar para polvilhar
Modo de preparo
Numa panela, coloque o açúcar com a água e misture com o dedo indicador até dissolvê-lo. Leve ao fogo médio e deixe cozinhar por 50 minutos, sem mexer, até que fique em ponto de bala mole. Caso as laterais comecem a queimar, pincele um pouco de água na panela. Para testar o ponto, coloque uma colherada da calda (use uma colher de chá) num copo com água bem gelada; se endurecer, está no ponto.
Retire a panela do fogo e junte o coco ralado. Volte ao fogo baixo e deixe cozinhar por 15 minutos, mexendo de vez em quando. Enquanto a cocada cozinha, forre uma assadeira com papel-manteiga e polvilhe com açúcar, cerca de ¼ de xícara (chá). Desligue o fogo e misture bem a cocada, até esfriar. Com duas colheres, transfira montinhos de cocada para a assadeira. Cubra a assadeira com filme e leve à geladeira por 2 horas ou até que endureça.
(Fontes: Catálogo Arquivo Fotográfico Zélia Gattai Vol. 2 Casa do Rio Vermelho, Os Amigos, Fundação Casa de Jorge Amado; Dona Flor e Seus Dois Maridos, Ed. Record; A Comida Baiana de Jorge Amado, de Paloma Jorge Amado, Ed. Panelinha)